A procura pela garota começou no dia do seu desaparecimento, um sábado, 09 de janeiro de 2016, com buscas coletivas mobilizadas por familiares, amigos e com apoio de alguns policiais militares em áreas próximas ao Flores da Amazônia.
Era um dia de sol onde moradores se mobilizaram percorrendo ruas internas, lotes vázios e matas próximas ao residencial, um conjunto de sete blocos de apartamentos vizinho a outro conjunto com sete blocos - área densamente povoada.
Maria Antônia, hoje com 47 anos, contou que todos ficaram assustados na época. "As crianças brincavam juntas aqui nas áreas de baixo, então todo mundo se conhecia né. O sumiço da Laura foi um choque, as crianças foram para dentro de casa e alguns adultos tentaram ajudar no que podiam", comentou.
Sem sucesso, o grupo de apoio tentou novamente no dia seguinte, domingo, mas dessa vez somente amigos e familiares estavam procurando. Neste dia, conforme relatos de pessoas que estavam nas buscas, não houve apoio de forças policiais para encontrar a menina.
Enquanto isso, várias tentativas de contato com Rafael Viturino - namorado de Sione - eram feitas por conhecidos da garota. Contudo, ele - que na época era pintor - havia partido no domingo em viagem para o estado de Mato Grosso.
A informação que todos tinham era de que ele viajou com um patrão para executar um trabalho de construção civil em outro estado.
Era o segundo dia de Laura como desaparecida.
As primeiras reportagens noticiadas na imprensa foram veiculadas na manhã de 11 de janeiro, segunda-feira, informando que “uma menina de 09 anos saiu de casa para ir a um supermercado e desapareceu no setor Lago Sul, em Palmas”. Clique aqui.
Nas redes sociais, postagens no Facebook e Whatsapp também surgiram repetidas vezes já na data do desaparecimento, principalmente entre grupos de escolas municipais.
Enquanto isso, neste terceiro dia do caso, a polícia coletou o primeiro depoimento do caso, da mãe de Laura e que será apresentado mais adiante.
Era o terceiro dia de Laura como desaparecida.
A família, desesperada com a situação e com a falta de apoio nas buscas, mobilizou uma manifestação na terça-feira, 12, cobrando mais investigações e rapidez no caso. Cartazes e camisas com a foto de Laura preencheram a Avenida Tocantins, em Taquaralto – região sul de Palmas.
Enquanto isso, o caso começava a ganhar notoriedade rapidamente em toda a cidade. Nas redes sociais, nas rodas de conversa e pontos de ônibus muitos se perguntavam sobre a menina e seu paradeiro. Foi a primeira vez que a cidade como um todo experimentou esta sensação.
Era o quarto dia de Laura como desaparecida.
Durante a madrugada de terça para quarta-feira, 13, João Henrique Leal, que era o proprietário do Mercado Supremo, local onde Laura foi vista antes de desaparecer, decidiu mais uma vez procurar imagens nas câmeras de segurança, algo que havia tentado no final de semana, mas sem sucesso.
João Henrique, diante da repercussão que o caso estava tomando, pensou em olhar novamente todo o arquivo das filmagens, desta vez redobrando a atenção. No exato tempo da tela, faltando seis segundos para às 11h:17m da manhã do dia 09 de janeiro de 2016, Laura surge aos olhos do dono da mercearia.
Nas cenas captadas pela câmera, a menina entra no mercado com o punho fechado, segurando a nota de R$ 2,00 que a avó havia lhe dado. Laura vestia blusa branca, saia azul e estava com o cabelo preso. Aos pés, um chinelo de dedos.
No amanhecer daquela quarta-feira, graças a essa atitude de João Henrique, a polícia - e a sociedade - tinham pela primeira vez algo substancial que pudesse ajudar. Eram as cenas que mostravam como Laura estava vestida, o que poderia facilitar na sua identificação, ou mesmo observar suspeitos próximos a ela naquele momento.
Era o quinto dia de Laura como desaparecida.
Conforme noticiado na imprensa, que divulgou as imagens dela no mercado, uma repórter da TV Anhanguera conversou com João Henrique naquela quarta-feira, que disse que nenhum policial havia aparecido para pegar imagens ou depoimentos de funcionários e clientes vistos no dia do desaparecimento.
Até o momento narrado, a polícia civil havia atuado somente com a coleta de dois depoimentos, realizados na segunda e terça-feira, e uma diligência ao residencial em que Laura morava, a qual não descobriu nada além do já declarado pela família: a suspeita de Rafael Viturino.
As primeiras impressões sobre o caso Laura
Oficialmente, o inquérito policial que investiga o desaparecimento de Laura Vitória Oliveira da Rocha foi instaurado pela Polícia Civil tocantinense em uma quarta-feira, dia 13 de janeiro de 2016, cinco dias após o registro do seu sumiço.
A parte mais substancial do caso Laura foi conduzida pela Divisão de Homicídios de Palmas nos meses seguintes ao desaparecimento, mas os primeiros trabalhos investigativos foram realizados pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
Na segunda-feira após o sumiço de Laura, a primeira Ordem de Missão do caso foi assinada pelo delegado Antônio Gonçalves, que atuava junto com a colega Maria Ribeiro Neto, titular da DPCA.
Antônio solicitou aos agentes de classe especial, José Ricardo de Sousa e Sinval Araújo, diligências na região em que a menina morava para “localizar, identificar e intimar os familiares e encontrar os possíveis envolvidos no desaparecimento da criança”, conforme consta no documento. Clique aqui.
A Ordem de Missão em questão foi emitida após o depoimento de Sione Pereira e registrado naquela segunda-feira, 11 de janeiro. A partir deste depoimento, foi aberta a primeira linha de investigação do caso Laura.
Questionada onde estava no dia do desaparecimento de Laura, Sione respondeu que estava trabalhando e que, por volta das 10h:30m, foi para a casa de uma amiga chamada Zilneia da Costa, na região norte de Palmas.
Seguindo com o depoimento, os agentes - sabendo que os familiares haviam tentado contato telefônico com Sione - questionaram o porquê dela não atender as dezenas de ligações que recebeu.
Sione então falou que o telefone havia descarregado e que não viu as chamadas. No depoimento consta que: “por volta das 16h, quando saia para se dirigir para casa é que verificou as ligações, retornando então para a mãe. Nesse momento ficou sabendo do desaparecimento da filha Laura”.
Sione então passou a informar aos policiais que durante a tarde do desaparecimento, uma pastora evangélica ligou para o telefone de sua irmã [Simone Pereira] “profetizando” que Laura poderia estar em ao menos três lugares da cidade. Após a verificação dos locais indicados, nada foi encontrado.
Seguindo com mais declarações, Sione falou que esta pastora [cujo nome não é indicado no depoimento] “tinha recebido uma mensagem de Deus, e que sua filha estaria com o ex-namorado dela [...] em uma chácara”.
Após as declarações da pastora, Sione afirmou ter telefonado para Rafael dizendo que “todo mundo estava sendo investigado e ele também estava”, [Rafael] respondeu que não sabia de nada e “que ela não o metesse nesse rolo, que seu ônibus já estava passando”.
Antes de encerrar o depoimento, Sione concluiu dizendo que foi até a casa de Rafael, que morava com a mãe, Maria Alice Viturino, junto com a Polícia Militar na manhã do domingo. Lá souberam que ele havia saído para uma viagem ao estado do Mato Grosso.
Maria Alice: segundo depoimento do caso
Na DPCA, o depoimento de Maria Alice Viturino na terça-feira, 12 de janeiro, foi realizado no dia seguinte ao de Sione. Na época com 47 anos, ela afirmou que o filho viajou a trabalho, mas não soube informar o nome da cidade em que ele estava e nem o nome do chefe de Rafael - que segundo ela - estaria com ele na viagem.
“[Ele], juntamente com o patrão foram de ônibus para fazer um trabalho em Mato Grosso[...], não sabendo dizer o horário precisamente; [Maria] disse que a profissão de Rafael é de pintor. [e que] ele ia ficar cerca de 15 dias trabalhando fora e que é de costume ele viajar para trabalhar com este patrão”, conforme consta no relatório.
Sobre o relacionamento do filho com Sione, consta no relatório produzido pelos agentes que “[Sione] chegou a ir até à casa dela e Maria Alice perguntou se ela tinha filhos, e Sione disse que não tinha, depois soube através do Rafael que Sione tinha mentido”.
Maria Alice informou também que o relacionamento entre os dois “durou duas semanas apenas” e que não estariam mais juntos naquela data. Além disso, Rafael estava com outra namorada na época.
Diligência no Residencial Flores da Amazônia
Em seguida, os agentes foram até o Flores da Amazônia para buscar mais informações. O clima estava pesado e as pessoas apresentaram relatos que indicavam Rafael como suspeito.
“os familiares estavam muito exaltados insistindo em dizer que Rafael era o principal suspeito e que queriam justiça”. Foram feitas, ainda, várias abordagens aos vizinhos de Laura, mas ninguém soube informar nada que pudesse acrescentar as informações que já foram dadas pelos familiares da vítima”.
A dona da empresa deu algumas declarações na DPCA (não existe depoimento formal) sobre o dia do desaparecimento e sobre o comportamento de Sione na manhã do sumiço de Laura. Esse relato está disponível no Relatório de Ordem de Missão.
De acordo com Helen [sobrenome não consta no Relatório], Sione era uma boa funcionária e que no dia do ocorrido trabalhou normalmente, porém, alguns colegas a acharam “um pouco nervosa”.
Ao tomar conhecimento do sumiço da menina, Helen tentou contato com Sione, mas sem sucesso. Decidiu então ir até o Residencial Flores da Amazônia e lá encontrou com ela, presenciando no local uma discussão entre a mãe e a avó, Gilsandra Pereira, “sendo que uma culpava a outra pelo desaparecimento de Laura”.
Já no final da tarde, agentes que estavam na DPCA receberam uma ligação de uma pessoa que desejou não ser identificada. Essa pessoa, uma professora de Laura, informou que Sione era usuária de drogas e que estava “devendo muito dinheiro para um traficante”.
A partir destas informações originadas em depoimentos e conversas informais dos agentes, a polícia traçou a primeira linha de investigação, apontando para Rafael Viturino como o principal suspeito do rapto de Laura.
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