No dia 10 de março, dois dias após a prisão de Ronaldo, um depoimento sigiloso é apresentado à polícia. Uma mulher, com iniciais de L.B.P, informou que viu Laura na manhã daquele sábado conversando com um rapaz enquanto ia ao mercado.
Esse homem estava em uma moto vermelha e usava capacete vermelho, sendo descrito como “afrodescendente, alto, forte e possivelmente com corte de cabelo baixo ou careca”.
Neste mesmo depoimento, a mulher afirma ainda que “a menina parecia conhecer o rapaz, pois conversava e sorria para o mesmo”.
Esse é, possivelmente, o depoimento mais importante de todo o caso Laura e surgiu quase dois meses após o desaparecimento dela. É o único que conseguiu posicionar uma testemunha ocular diante de Laura pouco tempo antes de ela ser raptada.
No dia anterior a este depoimento, outro fato curioso apareceu no caso: uma denúncia anônima encaminhada para a Delegacia de Polícia Interestadual e Captura (Polinter) indicaindo um homem que afirmou que Laura estaria em uma chácara na região norte da cidade.
Este homem, chamado Paulo Oliveira Santos, apelidado de Paulo Preto, foi localizado no dia 11 de março e prestou depoimento ao delegado Sérgio Kenupp. Com a profissão de pintor, Paulo, na época com 47 anos, negou que falou sobre o paradeiro de Laura. Questionado se frequentou o bar "Tô-Ki-Tô" no setor Lago Sul, também negou à autoridade policial.
Paulo afirmou em seguida que possui uma moto modelo BROS na cor vermelha e um capacete também na cor vermelha. Ao final da oitiva, o delegado Kenupp tira uma foto do homem (com e sem o capacete) e pergunta se Paulo já prestou serviço como pintor no Residencial Flores da Amazônia, o que também foi negado por ele.
A aparência física de Paulo - juntamente com sua moto e capacete – coincidiam com as informações contidas no depoimento sigiloso dado poucos dias atrás. Contudo, a linha de que Paulo poderia ser o suspeito não avançou por falta de evidências.
O que chamou atenção nesta sequência de acontecimentos foram justamente as tais coincidências: no dia 09 de março uma denúncia anônima é apresentada, citando Paulo Preto e sua fala com relação a Laura; no dia 10 um depoimento sigiloso surge indicando características muito semelhantes à pessoa de Paulo e o veículo que ele usava na época; e por fim, no dia 11, o próprio depoimento de Paulo, negando qualquer envolvimento no caso.
Dez dias depois dos fatos narrados acima, a polícia chamou pela primeira vez o proprietário do bar "Tô-Ki-Tô" para prestar depoimento. No local de seu estabelecimento, Laura passou na frente por duas vezes e foi vista por vários de seus clientes. Seu depoimento só foi ocorrer 72 dias após o desaparecimento de Laura.
O proprietário, Vicente de Carvalho, informou à DHPP quais clientes estavam no local, relatou sobre as saídas de Ronaldo do bar e pessoas que estavam com ele, além de confirmar que Paulo Preto já havia ido em seu bar, contradizendo a informação dada por ele semanas antes.
Ainda enquanto acontecia o desenrolar desta possível nova linha de investigação, Ronaldo Santana, que possui características físicas completamente diferentes do homem citado no depoimento sigiloso, seguia preso.
No dia 26 de março, Kenupp tenta uma outra abordagem com relação ao caso: cogitando que Laura pudesse estar morta e devido à falta de testemunhas que confirmassem as circunstâncias do rapto, ele envia o Ofício º 023/2016 para a BRK Ambiental (concessionária de água e esgoto que atua em Palmas) pedindo apoio para conferência das caixas de esgoto da região.
Não há registro de resposta deste ofício, nem mesmo um laudo de vistoria desses locais. Clique aqui.
A partir deste momento, no início de abril de 2016, as investigações sobre o caso Laura passaram a esfriar e novos depoimentos e informações deixaram de constar no trabalho policial.
Em junho daquele ano - diante da falta de novas evidências - Sérgio Kenupp pede para sair da investigação e que o inquérito fosse remetido à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Palmas.
Esta reportagem tentou contato com o delegado aposentado, Sérgio Kenupp, porém não houve interesse de sua parte em dar declarações.
No restante do ano de 2016, a DPCA ficou à frente do caso e nada de relevante foi descoberto com as investigações. A última diligência que se tem registro naquele ano foi solicitada pela delegada Maria Neta no mês de agosto, para apurar informações que a avó teria recebido.
Dois agentes desta delegacia especializada, Dália Moura e Francisco Moura, foram até o Residencial Flores da Amazônia conversar com Gilsandra. A avó relatou, por meio de revelações que surgiram em orações, possíveis informações sobre Laura, algo descartado pela delegada - que não autorizou novas diligências com relação às falas de Gilsandra.
A realidade estava posta. Não haviam linhas de investigação ativas na busca por Laura. As diligências reduziram e as condições de trabalho da polícia não colaboravam. Um ano antes, a polícia civil tocantinense havia deflagrado greve geral no estado, apontando atrasos em pagamentos de direitos e péssimas condições de trabalho.
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