Entre bastidores, percebe-se que o caso Laura Vitória só não foi arquivado ainda devido à pressão de algumas entidades e instituições que seguem acompanhando a história, além da imprensa tocantinense, que retornou ao caso ao longo dos anos.
Entre esse grupo, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - Cedeca Glória de Ivone, ONG (Organização Não Governamental), que defende direitos humanos de crianças e adolescentes com atuação desde maio de 2007 em Palmas-TO.
Mas a atuação do Cedeca vem desde o ano anterior, em 2016, quando Laura desapareceu. Ainda nos primeiros meses da investigação, a ONG acionou a Secretaria Estadual de Segurança Pública, cobrando resultados da investigação.
O Cedeca também cobrou intervenção, através de outro ofício em fevereiro de 2017, do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente- CONANDA, vinculado ao Governo Federal; da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente- ANCED e da Secretaria Especial da Presidência da República de Direitos Humanos.
Todavia, nenhum dos órgãos e entidades citados acima respondeu sobre o caso de Laura.
Essa mesma questão já havia sido antecipada pelo Cedeca naquele ano às autoridades. Todos os ofícios citados constam no inquérito da investigação de Laura. Demorou mais de um ano para ela aparecer nos sites de cadastro de desaparecidos.
Nas trincheiras da militância
Mônica Brito, defensora dos direitos humanos, está na militância dos direitos das crianças e adolescentes desde o início dos anos 90. Natural de Tocantínia, cidade na região central do estado, a agente social se formou em Goiãnia-GO e logo começou a atuar no Ministério Público do Tocantins, onde já se aposentou.
Ela fez parte no final dos ano 90 de um grupo local de ativistas que deram início a implantação dos Conselhos Tutelares no Tocantins, naquela época já com 12 anos de existência.
A partir dali, formou-se o campo para a criação em 2007 do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - Cedeca Glória de Ivone, a qual é uma das fundadoras.
Carros escuros naquela manhã de sábado
Em entrevista realizada em junho de 2023 na sede do Cedeca em Palmas, Mônica relatou quando e como foi primeiro contato com o caso de Laura. Durante a conversa, a agente social informou algo que fora por muitas vezes repetido ao longo dos anos: a presença de carros escuros rondando os prédios no dia do desaparecimento.
Entre as linhas de investigação que foram adotadas, esta foi a menos explorada pela polícia e considerada - inclusive - como informal dentro do caso. Apenas um depoimento no inquérito menciona os tais "carros escuros": um registro pela avó de Laura, Gilsandra Pereira, em 2017 - um ano após o desaparecimento.
Essa foi mais uma das tentativas em fazer com que os policiais retornassem para a investigação, reafirmando essa informação que já circulava entre os moradores do Residencial Flores da Amazônia desde o primeiro dia do desaparecimento.
Mônica foi uma das que tentou levar a informação para a polícia investigar, mas sem sucesso.
Ministério Público pouco consegue atuar no caso Laura
No próximo capitulo desta reportagem, detalhes da atuação do Ministério Público do Tocantins no caso Laura, que entrou em cena após pressão da sociedade e entidades como o Cedeca.
Em resposta aos ofícios indicados acima, o promotor Delveaux Vieira entrou em cena e no dia 10 de fevereiro cobrou da delegacia “empenho e celeridade nas investigações, ante a gravidade dos fatos apontados” e pediu a conclusão do inquérito.
Já em agosto de 2017, a Secretaria de Segurança Pública do Tocantins, em resposta atrasada à manifestação do Cedeca e Ministério Público, decidiu - mais uma vez - movimentar o inquérito, levando as investigações para cargo do delegado Wanderson Chaves de Queiroz.
Wanderson naquela época estava à frente da Divisão Especializada de Repressão ao Crime Organizado (DEIC - Palmas), outra delegacia de prestígio com ampla atuação em roubos a banco, carros fortes e casos de alta complexidade.
Enquanto estava a frente do caso, algo inesperado aconteceu: uma possível conexão com provas levantadas em uma investigação de roubo a banco no Tocantins e que poderiam indicar o paradeiro de Laura.
Detalhes desta conexão e mais sobre a atuação do Ministério Público estão no próximo capítulo desta seção.
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