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Rochas Escuras

"Os amigos da minha mãe"

Sione Pereira de Oliveira era a mãe de Laura Vitória e nasceu em fevereiro de 1988 na cidade de Axixá, região norte do Tocantins. A família havia migrado do sul do Maranhão, e lá foi criada durante os primeiros anos de vida junto com a irmã mais velha, Simone Pereira.


Sione e Simone chegaram em Palmas-TO ainda crianças e parte dessa primeira fase de suas vidas ainda nos anos 90 foi retratada na sessão anterior “Vovó”, dedicada à senhora Gilsandra.


Sione Pereira em 2016 durante entrevista no ano do desaparecimento de Laura

Foi no início dos anos 2000 que Sione conheceu Gênesis Ribeiro da Rocha, que mais tarde viria a ser o pai de Laura Vitória. Os dois frequentavam a mesma escola e tornaram-se amigos na época.


Sione engravidou e deu à luz a pequena Laura quando tinha 19 anos de idade. Após o nascimento da menina, os dois se separaram. Genesis, por sua vez, conviveu pouco com a menina nos anos iniciais, já que passou boa parte do tempo preso por tráfico de drogas.


Depois de Gênesis, Sione teve ainda outros relacionamentos que geraram mais três filhos. Esta fase de sua vida foi marcada por casos de violência doméstica que sofria com um antigo companheiro, com idas frequentes para delegacias, conforme relatos da família.


Sua vida de relacionamentos conturbados, uso de drogas, tragédias e violência terminou tragicamente com sua morte no ano de 2017, conforme relatado abaixo.


Os crimes de Robson Dante Gonzaga


Foi no dia 15 de setembro de 2017, uma quinta-feira de muito calor na cidade de Palmas, que Sione Pereira, então com 29 anos, estava em casa com o marido Wátila Alves (25) e seus cunhados João Paulo Alves (19) e Weliton Barbosa (26), além da esposa deste último, Meire.


Naquela noite, o grupo planeja fazer algo em algum lugar da cidade. As opções são eram muitas, então restou o encontro nas distribuidoras de bebidas que existem na cidade.


Por volta das 23h, Weliton e Meire, tiveram uma pequena discussão na casa de Wátila. Weliton acabou indo embora para a casa da amiga Amanda Rodrigues (25), que estava com a irmã Talita Rodrigues (21).


Um pouco mais tarde, um reencontro tornou a ocorrer entre o grupo formado por Sione, Watila, Weliton, João Paulo, Meire, Talita e Amanda, que junto com outras duas pessoas, Cleison da Silva e Flávia Araujo, foram para a Distribuidora Rios, no bairro Jardim Aureny III – região Sul de Palmas.


Por volta das 2h da madrugada, todos os oito estavam sentados em uma das mesas do bar quando um homem chegou: Robson Dante Gonzaga, técnico em Defesa Social do sistema prisional tocantinense - servidor público vinculado à Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju).


Segundo informações apuradas, Robson conhecia de vista as pessoas que estavam sentadas na mesa de Sione. Logo ao chegar no local, passou a encarar o grupo e proferia uma série de ameaças. Relatos daquela noite indicavam que ele estava totalmente alterado e chegou a mostrar a arma para uma das pessoas que estava na roda.


“colocando a mão na arma de fogo que estava na cintura, falou que era polícia. Disse também que era matador”. Esse trecho faz parte da oitiva de Cleison da Silva, na época com 20 anos. Ele era amigo de Sione e Weliton.

Amanda Rodrigues afirmou também que em outro momento “avistou o indivíduo [Robson] no balcão pedindo cerveja. Ele sempre repetia que era policial militar, e sacando a arma de fogo, passou a exibi-la para que todos vissem”.


Flávia Araújo, outra amiga que estava no local, disse, em depoimento, que Robson afirmava que “ia matar ladrão” naquela noite e a todo momento repetia que era “polícia”.


Em determinado momento, por volta das 2h:40m da madrugada, Robson cruzou com Weliton dentro do bar, que disse alguma coisa em seu ouvido. Weliton ignorou e seguiu contrariado para a mesa em que estava.


Ao retornar ao caixa para comprar mais uma cerveja, foi novamente abordado por Robson. Neste segundo encontro, a discussão se agravou. E de forma muita rápida, um disparo de arma de fogo aconteceu e atingiu Weliton, que saiu correndo em direção oposta ao bar.


Logo em seguida, mais confusão e correria. Sione, Wátila, João Paulo e Cleison, com medo e tentando se proteger, foram para cima do autor dos disparos. Neste momento, conforme os depoimentos, a arma de Robson caiu no chão. Ele a recupera e realiza mais disparos, atingindo mais duas pessoas: Sione e Cleison.


Ao todo, foram nove disparos realizados dentro do bar. Muitos outros clientes correram e se esconderam, enquanto Robson se preparava para deixar o local.


Sem tomar dimensão da situação, Watila socorria o irmão, Weliton, que agonizava deitado na Rua 26, à esquerda do bar. Ele fora atingido na região da virilha e estava agonizando e sangrando muito.


Já Sione correu pela direita, caminhando poucos metros na Avenida I e caindo a cerca de 20 metros de distância. Watila não percebeu que a esposa foi atingida.


Ambos, Sione e Welliton, morreram ainda no local, antes da chegada da ambulância. Cleison foi levado ao hospital logo após o disparo e recebeu alta em seguida.


No Instituto Médico Legal (IML), durante a autópsia dos corpos, os médicos legistas constataram ainda outra tragédia: Sione estava grávida de cinco meses.


Robson é indiciado por homicídio e aguarda julgamento por Júri Popular


Robson Dante se apresentou à polícia poucas horas depois de cometer os homicídios. O servidor é Técnico em Defesa Social pelo Governo do Tocantins e natural de Porto Nacional-TO, nascido em novembro de 1976.


Robson já havia ocupado o cargo de agente de saúde do município de Palmas por 10 anos seguidos, e por ter desempenhado esta função, era muito conhecido na região do bairro Jardim Aureny III.


No ano de 2014, ele prestou concurso público para atuar na Defesa Social e Segurança Penitenciária do estado do Tocantins, sendo aprovado em 91º lugar e convocado para assumir no ano de 2017, conforme consta no Diário Oficial nº 4.843 de 07 de abril daquele ano.


Morador antigo daquele bairro, Robson vivia com a mãe e informou que era frequentador “assíduo” do local e que havia ingerido bebida alcóolica no dia.


Na época do crime, ele havia começado a trabalhar na Casa de Prisão Provisória de Palmas- CPP havia apenas cinco meses, e cursava Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Tocantins.


O servidor ainda estava em estágio probatório quanto cometeu os assassinatos. Em maio de 2020, uma publicação no Diário Oficial do Estado concedeu sua estabilidade funcional, após fim do estágio probatório.


Robson chegou, inclusive, a conseguir um contrato no Estado como professor de Educação Básica de matemática. O servidor foi recentemente notificado pela Secretaria de Administração do Governo do Tocantins por acúmulo de funções públicas.



No depoimento, o servidor também fez questão de contextualizar ameaças que havia sofrido no mês anterior (Boletim de Ocorrência nº 47033E/2017 – 03/082017), após não aceitar “proposta da esposa de algum preso (não sabe precisar qual deles) para burlar a segurança” da unidade penal que estava atuando, a Casa de Prisão Provisória de Palmas.


Destaca-se que tais fatos ligados às ameaças nunca se mostraram conectados com as vítimas Sione e Weliton. Essa informação não chegou a ser trabalhada, oficialmente, pela polícia.


No relatório final do inquérito que investigou a morte de Sione e Weliton, o delegado Pedro Ivo Miranda elencou todos os depoimentos das testemunhas que presenciaram o caso, entre elas os amigos das vítimas.


Por fim, Robson foi indiciado em novembro de 2017, dois meses após o crime, por homicídio qualificado com motivo fútil contra Sione e Weliton e tentativa de homicídio contra Cleison.



A promotora Laryssa Santos Machado destacou a materialidade do crime. “As investigações apontam que o denunciado, em duas oportunidades, interceptou a vítima Weliton, sendo que ambos conversaram. Porém, na segunda vez, iniciou-se uma confusão, momento em que o denunciado efetuou disparos contra Weliton, atingindo-o na região do inguino femoral, causa eficiente para sua morte”.


Com relação ao disparo contra Cleison, a promotora destacou que “o delito só não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do denunciado, tendo em vista que após ser ferida, a vítima correu na tentativa de se proteger dos tiros”.


Sobre a morte de Sione Pereira, Laryssa Santos apontou que: “após o denunciado atingir a vítima Weliton, seus amigos foram na direção dos fatos, no intuito de ajudar a vítima e conter o denunciado. No entanto, não satisfeito com o que já havia provocado, continuou a efetuar disparos, e atingiu desta vez a vítima Sione, provocando-lhe lesão de vasos pulmonares de grosso calibre, o que ocasionou volumosa hemorragia interna, sendo a causa da sua morte”.


Nas fases iniciais de audiência, a defesa do acusado, feita pela Defensoria Pública do Estado do Tocantins, alegou legítima defesa com excludente de licitude. Em novembro de 2018, pouco mais de um ano após o crime, o juiz Gil de Araújo Corrêa, da Comarca de Palmas-TO, determinou julgamento por Tribunal de Júri.


A última atualização do caso perante a Justiça é o pedido de formação de um Júri Popular que irá julgar os crimes de Robson. Ele seguiu trabalhando na Casa de Prisão Provisória de Palmas até setembro de 2018 e atualmente está lotado como Agente de Execução Penal, atuando na fiscalização de tornozeleiras eletrônicas.


Governo do Tocantins demora dois anos para abrir sindicância contra servidor


Somente em 2019, o Processo Administrativo Disciplinar nº 2019/09041/000014 foi instaurado no âmbito da Secretaria de Cidadania e Justiça do Estado do Tocantins (Seciju), para apurar “suposto uso de arma de fogo contra civis” por parte de Robson Dante.


E por fim em março de 2023, a Controladoria Geral do Estado, por meio do Ofício CGE nº 7/2023/COMPA – I, solicitou acesso aos autos do processo nº 0045168-66.2017.8.27.2729, para “utilizar como provas emprestadas as já produzidas na esfera judicial”.


Acionada para comentar a situação do servidor Robson Dante, a Secretaria de Cidadania e Justiça (Seciju) enviou a seguinte nota:


“A Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça informa que no que se refere à solicitação de informações sobre o servidor Robson Dante Gonzaga, há dois processos em curso, um na esfera administrativa, outro na criminal, ambos dentro dos respectivos prazos legais. Tão logo sejam concluídos, a Pasta tomará as medidas cabíveis, conforme resolução dos processos. A Seciju ratifica que não compactua com situações ilícitas, mesmo que estas possam envolver seus servidores e preza para que sejam solucionadas da forma mais justa e breve.”

Diante dos questionamentos enviados a Pasta sobre o atraso de dois anos na abertura de um processo disciplinar contra Robson, bem como sobre quais medidas cautelares foram feitas após os assassinados, a Seciju não respondeu.


Robson segue desempenhando seu trabalho no sistema prisional.


Cercado de violência, o caso Laura é um exemplo que reflete bem a realidade brasileira e tocantinense sobre casos de menores desaparecidos. Um retrato dessa situação será apresentado na próxima seção desta reportagem. “Eu vi o que eles estão falando” reúne dados sobre esse universo triste que acomete milhares de famílias todos os anos.


Contudo, mais um adendo merece destaque nesta reportagem: Watila Alves, viúvo de Sione Pereira – mãe de Laura, que foi assassinado em Palmas em dezembro de 2022.




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Universidade Federal do Tocantins - UFT. Trabalho de Conclusão de Curso. Jornalismo - Julho/23

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