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Rochas Escuras

"Sábado não é dia de escola"

Naquela manhã de sábado, 09 de janeiro de 2016, a pequena Laura Vitória Oliveira da Rocha - então com 09 anos - acordou cedo e acabou encontrando sua mãe, Sione Pereira, que apareceu em casa para deixar algumas roupas para lavar com Gilsandra Pereira, avó da menina.


Laura, assim que viu a mãe saindo pela porta do pequeno apartamento onde moravam no Residencial Flores da Amazônia – setor Lago Sul região sul de Palmas, contou que iria passar o restante do final de semana na casa do pai, que residia do outro lado da cidade.


A garota morava também com outros três irmãos mais novos e um avô acamado, que necessitava de cuidados especiais. Enquanto a avó preparava o almoço da família, as crianças brincavam no quarto do apartamento.


Por volta das 11h:00 horas da manhã, Gilsandra lembrou-se da falta de cheiro-verde e pediu para Laura ir comprar em um mercado próximo de casa. Essa tarefa ela já havia desempenhado várias outras vezes, assim como diversas outras crianças que também iam fazer compras a pedido dos pais.


Laura - sempre muito obediente - pegou o dinheiro trocado, uma nota de R$ 2,00, e saiu para a curta caminhada até o Mercado Supremo – exatos 450 metros de distância da guarita do residencial Flores da Amazônia, que conta com dezenas de apartamentos divididos em sete blocos. Veja aqui a localização no Google Maps.


Saindo da guarita do conjunto de prédios, Laura virou à direita e seguiu no sentido da rotatória de entrada da sua quadra. Depois virou à direita novamente, e em seguida à esquerda, percorrendo uma rua de mais 250 metros. Ao final deste trajeto, estava o mercado.


A garota entrou na mercearia, limpou os pés no tapete e em seguida foi até o cheiro-verde - que já sabia onde estava. No caixa, pagou o valor para o proprietário João Henrique Leal, que viu a garota ir embora com a sacola na mão.


Ao retornar para o apartamento, poucos minutos depois, Laura entregou a compra para a avó. Gilsandra, entretanto, lembrou que havia esquecido de mais um pedido: uma lata de milho verde. Então, solicitou que a menina retornasse imediatamente ao mercado.


Por volta das 11h:30m da manhã, Laura abriu novamente a porta do apartamento, desceu as escadas e saiu rumo ao mercado.



Entrada do bloco C do Residencial Flores da Amazônia, onde Laura morava.

Cadê a Laura?


Enquanto o almoço ficava quase pronto, a avó começou a se questionar onde estava Laura, que não havia retornado. Fazer aquele percurso era algo bem rápido. A menina conhecia o trajeto.


Gilsandra decidiu, então, ir ao mercado e encontrou primeiro com o proprietário João Henrique, que informou não ter visto a menina desta vez.


Gilsandra lembrou de uma segunda mercearia próxima e imaginou que Laura pudesse ter ido até lá. Foi andando depressa, mas também não conseguiu informações sobre a menina neste local.


O medo, de repente, começou a tomar conta da situação. Enquanto fazia o caminho de volta, ela já perguntava assustada sobre Laura para todos que encontrava, mas ninguém soube informar da menina.


Ao passar pelo bar “Tô-Ki-Tô”, que fica ao lado do Mercado Supremo(clique aqui), questionou para alguns homens se haviam visto a garota passando por ali novamente, mas também nenhuma confirmação.


Em pouco tempo, a notícia de que Laura havia desaparecido já estava circulando no entorno do residencial, uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal e destinado às famílias de baixa renda de Palmas.


Enquanto transcorriam as primeiras horas, várias pessoas começaram a chegar: parentes, vizinhos, curiosos e depois os policiais militares. Na internet, postagens em redes sociais já estavam circulando, inclusive em grupos de escolas.


Todos continham a foto da garota, informando o local de desaparecimento e os contatos telefônicos.


No início da tarde daquele sábado, 09 de janeiro de 2016, Gilsandra, já bastante aflita, decidiu ir até a Central de Flagrantes de Palmas, próximo ao centro da cidade. Precisamente às 14h32, o boletim de ocorrência nº 1680 E/2016 fora assinado, sendo este o primeiro registro oficial do caso Laura.


A criança constava como desaparecida para as forças policiais do estado do Tocantins pouco mais de três horas após seu último contato com os familiares.


Atende, Sione!


A mãe de Laura Vitória, Sione Pereira, também morava no Residencial Flores da Amazônia, porém, em outro bloco de apartamentos e chegou ao local por volta das 16h:30m. Com o celular descarregado, informou não ter visto as dezenas de ligações de Gilsandra e familiares questionando sobre o paradeiro da menina.


Depois de sair do trabalho em uma fábrica de bolos por volta das 10h:15m da manhã, Sione contou que foi para a casa de uma amiga na Arno 71, região norte de Palmas. O que depois admitiu ser mentira durante depoimento à polícia, uma das primeiras contradições apresentadas por Sione ao longo do caso.


Sione Pereira em 2016, durante entrevista sobre o desaparecimento da filha Laura

Com um histórico de relações conturbadas, abuso de drogas e violência, a história de Sione - assassinada em Palmas no ano de 2017 - será retratada no decorrer desta reportagem na seção “Os amigos de minha mãe”.


Ao chegar no Residencial Flores da Amazônia, Sione assustou-se ao ver muitos policiais e pessoas ao redor.


Mais tarde no mesmo dia, parentes e conhecidos de Laura foram até o residencial. Entre eles, Simone Pereira (tia de Laura), Genesis Oliveira da Rocha (pai de Laura) e Rafael Viturino (ex-namorado de Sione), figuras que irão se mostrar importantes para a investigação.


Rafael Viturino, inclusive, compareceu mais de uma vez naquela noite, passando pelo local de moto e perguntando sobre o paradeiro da menina. Ao longo do dia, recebeu várias ligações de Sione e outros familiares de Laura perguntando se sabia de seu paradeiro.


Ali, no calor do momento, as primeira acusações já começaram a apontar para ele. Relatos de uma briga com Sione vista por outras pessoas no dia anterior surgiu entre a comunidade presente.



Ocorreram também situações que chamaram a atenção de outros moradores naquele dia. A notícia de que havia pessoas em um carro distribuindo bolachas para crianças chegou a ser apresentada em depoimento na polícia, e comentada entre os populares, porém não chegou a ser de fato investigada.


Conforme a noite ia avançando, Gilsandra decidiu dar um calmante para a filha, Sione, que estava muito nervosa. As duas adormeceram.


O desenrolar deste caso, detalhado com as linhas de apuração adotadas pela polícia ao longo desses sete anos, será retratado na seção seguinte: “Homens da polícia e carros escuros”, um compilado de seis partes, contendo minúcias que envolvem o caso de desaparecimento de criança mais emblemático da recente história de Palmas, capital do estado do Tocantins.



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(DHPP - Palmas) Governo do Estado do Tocantins

dhpp@ssp.to.gov.br


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Plano Diretor Norte - Palmas/TO

CEP: 77.006-068

Universidade Federal do Tocantins - UFT. Trabalho de Conclusão de Curso. Jornalismo - Julho/23

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