Eu sou Laura Vitória Oliveira da Rocha! Hoje sou uma adolescente de 16 anos e nasci em uma cidade super legal e que tenho muitas saudades: Palmas, no Tocantins. Foi lá que fiquei até meus nove anos de idade, morando, estudando e brincando em um bairro mais afastado do centro.
O nosso apartamento no setor Lago Sul era bem pequeno, mas cabia todo mundo. Acho que minha avó Gilsandra, que eu considero minha mãe, ainda mora por lá. Meus irmãos mais novos, a Manuela, João e o Gabriel já devem estar bem grandinhos hoje.
Também tinha meu avô, João Carlos, que morava com a gente, só que ele vivia deitado na cama e doente. Era bem velhinho e não sei se ainda está vivo, mas espero que sim.
Lá perto em outro prédio, morava também minha mãe de verdade, a Sione. Tenho muitas saudades dela e do Genesis, meu pai, que morava mais longe em outro bairro.
Poucos dias após a festinha do meu aniversário, acho que três dias depois, me raptaram e eu me perdi. Desde então, não consegui mais voltar para casa. Não sei onde estou e aqui não tem muito onde pedir por ajuda.
Eu descobri que fizeram esse site sobre mim, quando completei sete anos de desaparecida em 2023. Que eu me lembre, naquele dia estava indo no mercadinho comprar alguma coisa para a vovó. No caminho, alguém passou e me levou junto. Não consigo lembrar de mais nada.
Mas tem umas coisas que eu lembro bem e sei que sou assim até hoje: o pessoal contava que eu era bastante extrovertida, muito inteligente, comunicativa e querida. Sei também que eles sonham com a possibilidade de me reencontrar. Será que vai acontecer?
Então eu fico aqui, esperando ajuda enquanto isso! Combinado?
As lembranças que me restaram
Eu vivia perguntando para a vovó como foi quando eu nasci. Ela sempre contava, sempre! Foi amor à primeira vista. Mas também, sou sua primeira neta e os primeiros serão sempre os mais queridos. Meus irmãos que lutem para ocupar meu lugar, eu sou a preferida.
Tem também outra coisa: a vovó falava que a mãe não gostava de cuidar muito de mim, então ela me pegou e me criou desde o início, quando eu era apenas bebê. Tudo que eu tinha, foi ela quem me deu.
O rapaz que fez esse site gravou algumas falas dela recentemente. Escuta aqui:
Desde muito pequena, lembro que sempre andei na bicicleta da vovó. Eu ia na cestinha da frente e ela colocava um guarda sol para me proteger o tempo todo. Enquanto ela estava limpando a casa dos outros, fazendo trabalho de faxina, essas coisas - eu ficava na cestinha, bem quietinha.
Vovó contava que desde quando eu era bem pequena, praticamente não dava trabalho e que nem chorava à noite. Os vizinhos até apareciam perguntando se eu estava bem, pois era tudo tão silencioso. O pessoal gosta de “curiar” a vida dos outros, né?
Quando era de noite, antes de dormir, ela me dava para comer uma mistura com farinha. Nossa, como aquilo era gostoso! Eu dormia tranquila, de barriga cheia até o outro dia.
Eu era tão apegada a minha avó que quando chegou o primeiro dia de ir para a escolinha, eu não queria ficar de jeito nenhum. Chegava na porta e voltava correndo. Eu demorei para desapegar, sabe! Mas também, os cuidados e os mimos eram o tempo todo: eu só queria mesmo era ficar com ela.
Uma menina que sonha em ser estilista
Se ao menos quando me raptaram, eu estivesse com um dos meus cadernos de desenhos, eu lembraria mais de como fazer aqueles vestidos. Eu gostava também de escrever poemas e umas histórias, que dividiam os espaços com as tarefas da escola.
Tenho certeza que vovó ainda guarda eles no armário, esperando o dia em que eu voltar. Aqui onde eu estou não consigo desenhar, mas eu gostava bastante. Eu até pensava: quem sabe um dia posso ser uma estilista de moda famosa?
Minha tia Simone é outra que sente muita falta de me encontrar. Eu fico esperando o dia em que iremos nos ver de novo. Minha tia não desiste de mim, e pede até hoje por Justiça, para que os homens me encontrem logo de uma vez.
A investigação do meu caso segue lá com o pessoal da polícia. E eu te convido a seguir lendo essa reportagem que fizeram sobre mim, retratando um monte de coisa sobre minha história e outros casos de crianças lá no Brasil.
A próxima parte, “Sábado não é dia de escola”, eu lembro que é bem triste. A vovó pediu para eu comprar uma coisa no mercadinho da quadra. Ela estava fazendo um almoço bem gostoso, peixe ensopado. Faltaram alguns ingredientes e ela pediu para eu ir comprar.
Desci as escadas, passei na guarita do prédio e quando estava na rua, me pegaram.
Mas mesmo sendo um dia triste, essa reportagem resgata a memória do dia em que eu desapareci para nunca mais voltar.
Quem sabe você não me vê por ai?
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